01/12/2006

Rápidas do Olinda Arte em Toda Parte
Fotos e texto por Luiz Bernardo Barreto - Jornalista

Expressionismo e existencialismo. Poesias em formas pictóricas


Na quinta reportagem do Penny Press sobre o “Olinda Arte em Toda Parte”, conversou-se com um cara que produz uma pintura bem literária


Erisson Luiz da Silva tem 40 anos e pinta a mais de dez anos. Começou pintando camisetas e depois partiu para as telas. Amazonense de Manaus, com pais pernambucanos, chegou ao Estado aos seis anos de idade. Bacharel e licenciado pela Universidade Rural de Pernambuco, não foi nem pegar o diploma. Lia Dostojevski, e queria ser escritor. Se inturmou com o espaço de cultura libertária e publicava poesia em folhetos com o grupo. Foi vigilante, notificador de cartório, e deixou a poesia de lado. “É muito mais difícil se viver de poesia, pois não cria-se um objeto usual”, enfatiza Erisson. De certa forma, sua arte está contida de sociologia. É uma espécie de “misto regional”. Uma pintura impulsiva, sem muita técnica e proveniente da alma. Assim é o trabalho de Erisson, evolutivo em termos pictóricos, pois no começo só produzia o abstrato. No processo evolutivo, passou para a idiossincrasia, uma característica comportamental de um ou mais indivíduos responsável por interpretar uma situação de acordo com sua cultura e formação. Daí, passou para o figurativismo, onde percebeu que poderia pegar vários víeis da sociedade, onde o regionalismo se apresentou como uma boa característica.

A co-relação do primitivismo com o regionalismo é muito presente em seus trabalhos. Erisson se considera expressionista, com uma pintura dramática e subjetiva, e existencialista, com certa liberdade individual, e tem um certo “pezinho” no Fauvismo. Suas cores são expressivamente fortes nas representações pictóricas. Influenciado por Tereza Costa Rego, João Câmara e a espontaneidade de José do Amparo, também se inspira nos clássicos, como Picasso, Toulouse de Lautrec, o colorido de Valeri Gogan, Van Gogh, Cézanne. De certa forma, seu trabalho se encaixa como releitura de obras clássicas, introduzindo seu primitivismo nas idéias assimiladas. Hoje, não há mais idiossincrasia em suas obras, pois já tem na mente o que quer pintar. Uma técnica bastante “simplista”. “Meu trabalho é uma espécie de crônica. Não houve um crítico pra me categorizar’. Para Erisson, o consumo da arte no nosso país, ainda está preso ao trivial e o necessário. Seus quadros quebram um pouco o conceito de objeto de luxo, sendo acessível e retratador de uma realidade comum.

O ateliê de Erisson fica na rua do Amparo, casa n* 227-b, ao lado do bar Budega de Veio.
Mais informações acesse: http://www.erisson.com.br/
http://www.olindaarteemtodaparte.com.br

29/11/2006

Rápidas do Olinda Arte em Toda Parte
Fotos e texto por Luiz Bernardo Barreto – Jornalista

O encontro de dois movimentos em um só lugar. O abstrato e o surreal se unem e estão bem representados

Antonio Salvatore, o LA, e Sheila Rodrigues falam sobre suas pinturas e a iniciativa do evento


Na quarta reportagem sobre o “Olinda Arte em Toda Parte”, evento esse que tem Bajado como homenageado nesse ano, entrevistei dois grandes pintores contemporâneos, um que segue a escola abstrata e figurativa, a pernambucana Sheila Rodrigues de Oliveira, e Antonino Salvatore, italiano de Catania, que produz uma arte surrealista, muito parecida com a arte de Salvador Dali. Essa quarta edição do “Rápidas do Olinda Arte em Toda Parte” é uma dedicação a duas escolas de pinturas apaixonantes e de extrema valia. O abstrato pernambucano e o surrealismo europeu aqui se encaixam como manifestações em interação, e presentes nesse evento.

Antonino Salvatore, o LA, 37 anos, há um ano e meio trabalha em Olinda. Claramente surrealista, LA começou ainda criança e não gosta do caráter comercial que envolve as artes, no sentido publicitário e de vendas. Seus temas são confusos e envolventes. Típico trabalho surrealista. Procura abordar alimentos, como bolos, sorvetes, além de circos, palhaços e coisas do gênero. “Gosto de pintar coisas loucas, como encubações hidráulicas com bigode, chapéu.., coisas assim”. Com um trabalho bastante inusitado que mexe com o inconsciente, se autodenomina polêmico, e procura sempre dar uma mensagem para quem está olhando para tela. “Creio que Deus me deu uma alma de artista”. Sua técnica consiste em tinta acrílica, óleo e esmalte. Antonino tem certa preocupação com a finalidade do “Olinda Arte em Toda Parte”, por temer que se torne uma feira de artesanato. Em seu quadro, “Eu, Magritte e o Circo”, 78 x 49 cm, bem trabalha a perspectiva surrealista, respeitando temas e formas dessa escola européia. Seus trabalhos estão no ateliê de Sheila Rodrigues e Deyse.

Ainda nesse mesmo ateliê, encontra-se uma arte abstrata, com cores fortes e com certo cunho romancista. Esse é o trabalho de Sheila Rodrigues de Oliveira, 55 anos e trabalha com pintura desde a década de oitenta. Utiliza técnicas mista, acrílica e óleo sobre tela. Seus abstratos não tem títulos, deixando os leitores das imagens livres para viajar nas cores e formas nele presente. “O abstrato é algo mais contemporâneo, uma coisa mais solta, até porque não há uma regra na leitura”, disse a artísta. Já o seu figurativo é dotado de mais técnica, e se influencia, segundo a própria artista, nos trabalhos do italiano Monde Vilain. Moné também a influencia bastante.“Toda minha vida estou buscando. As pessoas falam que tenho que escolher um estilo, mas eu não tenho um só estilo. Dependendo do meu estado de espírito eu pinto o abstrato, ou o figurativo, pois adoro desenhar a forma feminina”. Na concepção de Sheila, o “Olinda Arte em Toda Parte” deveria acontecer mais vezes, pois isso é uma boa oportunidade tanto para discutir, como para fazer a interação artística na terra.
(a esqerda: Quadro de Bajado divide espaço com obras de Sheila Rodrigues)
Seu ateliê fica na rua do Amparo, n* 17, e há várias obras expostas de diversos artistas. Mais informações acesse: http://www.olindaarteemtodaparte.com.br/

28/11/2006

Rápidas do Olinda Arte em Toda Parte

Fotos e texto por Luiz Bernardo Barreto - Jornalista


Abstratismo, figuração e elementos cotidianos se mostram em formas simples, bem trabalhadas e irreverentes

Os elementos da escultura e pintura de Mariza Prado e a simplicidade e a forma popular de representação de Fátima Queiroz


Continuando a caminhada do Penny Press pelo “Olinda Arte em Toda Parte”, passei no Ateliê Espaço 21, onde expõe Maria Mariza de Albuquerque Prado. Mariza Prado produz arte inteligente e muito bem trabalhada. Pinturas abstratas e esculturas figurativas são suas maiores marcas. Logo ao lado do seu ateliê, expõe Maria de Fátima Bezerra de Queiroz, produtora recente, produz uma arte simples e bastante retratista do cotidiano pernambucano. A simplicidade de sua técnica faz nascer certa magia em seus quadros, que passam da irreverência, a um pensamento político.


Mariza Prado, 55 anos, paraibana de Umbuzeiro, produz a quinze anos e trabalha com escultura e pintura. Cursou arte livre, história da arte barroca, linguagem plástica contemporânea, técnica em resina e escultura. Uma arte modernista, que, segundo a própria autora, é mais curtida pelos jovens. Começou com a escultura e logo absorveu a plasticidade da pintura acrílica sobre tela. Já na escultura usa concreto, pó de mármore e resina. Mariza Prado mora a trinta e cinco anos em Pernambuco e a cinco em Olinda. “Deixei de ser dona de casa e me dediquei só a arte”, disse com ar de descontração e muito receptível. “Gosto de tudo o que é arte, mas o que amo mesmo é o modernismo”.


No que diz respeito a pintura, Mariza é autodidata. Nas esculturas existem variadas tendências, com algumas fugas para o figurativo. Há técnicas compostas por pregos, crochês no cordão e acrílica sobre tela, tudo em uma só composição. Sua carreira é marcada pela passagem de uma escultura tridimensional para uma bidimensional pintura abstrata. Sua arte é bastante interessante, pois faz junção de diversas técnicas em um só elemento. Com toda certeza uma das artes mais bem trabalhadas do evento. Curiosa, bem produzida e muito rica.


Colado com o ateliê de Mariza Prado, está o ateliê de Sheila Rodrigues. Nesse encontramos diferentes trabalhos de varios artistas. Entre eles está o trabalho simples e a arte popular de Fátima Queiroz, 53 anos. É recente sua produção nas telas, e antes de produzi-las trabalhava com adereços, estandartes, fantasias e demais coisas ligadas ao folclore nordestino. Sua técnica é a acrílica sobre tela, vez ou outra passando pelo espatulado.
Nascida em Caruaru está em Olinda há trinta e cinco anos, convivendo e se influenciando pelos artistas da terra, como Bajado (homenageado do Olinda Arte em Toda Parte), Mariza Lacerda, Sheila Rodrigues e outros. “O que eu vejo tento retratar da minha maneira, sem nenhum compromisso com a fidelidade. Eu gosto de coisas vivas, claras, o colorido me atrai”.


Os ateliês das duas artistas ficam lado-a-lado e se localizam na rua do Amparo, n* 17. Mais informações acesse: http://www.olindaarteemtodaparte.com.br/

27/11/2006

Rápidas do Olinda Arte em Toda Parte

Fotos e texto por Luiz Bernardo Barreto - Jornalista

Pinturas de diferentes técnicas e escultura talhada na madeira mostram a riqueza de seus conteúdos

Karina Agra, Lubambo e Bello conversaram sobre seus trabalhos expostos no evento


No segundo dia de rolé pelo Olinda Arte em toda Parte, o Penny Press conversou com três artistas pernambucanos que desenvolvem trabalhos diferentes e muito interessantes. A cidade está linda, com pessoas bonitas e trabalhos artísticos bastante expressivos e envolventes. O projeto “Prudente Arte o Ano Inteiro” (rua Prudente de Moraes) está acontecendo na casa 407 com mostra coletiva de artistas que exprimem variados estilos e escolas. Um ambiente aconchegante e atrativo para as pessoas terem a chance de apreciar e analisar diferentes trabalhos.

Entre esses trabalhos expostos, está o quadro “Bastiana só usa chapa final de semana” (pintura a óleo sobre tela) da artista plástica Karina Agra, 31 anos, e trabalha com artes plásticas de forma profissional a doze. Karina retrata a paisagem humana e segue uma linha baseada na fotografia documental. Seu trabalho é uma busca de forma e luz, elementos que realçam a imagem representativa na pintura expressada através da fotografia. A maioria dos seus trabalhos são monocromáticos (preto e cinza), mas também produz uma linha mais pop, onde se trabalha o preto e branco juntamente com o colorido. O quadro Bastiana é algo voltado ao social, com uma linha cotidiana.

Nesse quadro exposto no atelier, Karina Agra segue a foto-documentação, uma espécie de fotografia com cunho iconográfico, refletindo o âmbito e convivência social. Como ponto de referência ao seu trabalho, cita Sebastião Salgado, Costa Neto (pernambucano), Cartier Breson, todos fotógrafos. Já sua influência na pintura vai do abstrato de Juan Miró, ao colorido chapado de Henri Matisse. Portinari e Picasso também se incluem aí.“Eu não tenho um artista específico que eu siga aquela linha e pegue, mas tenho varias influencias que tento passar. Eu acho que isso é o mais importante, agente tem uma referência e transforma no que queremos”. Os trabalhos de Karina Agra são expostos ao longo do ano no atelier Sheila Rodrigues, na rua do Amparo, n* 17, Olinda.

A poucos metros dali, na rua Bernardo Viera de Melo, no atelier Ribeira Arte e Ofício, expõe Adalgiso Lubambo (membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro) , que produz uma arte baseada na marcenaria. Aos 71 anos, Lubambo produz como gente nova. Deve ser porque sua alma é nova. A atividade da marcenaria herdou do avó e era uma questão de sobrevivência. Lubambo contou que sua maior escola de arte foi a curiosidade, a observação e o interesse. Ele trabalha a pintura, escultura e xilogravura de forma talhada na madeira. Depois da aposentadoria, onde trabalhava como economista, suas primeiras “obras” realizadas foram maquetes, onde foi um dos primeiros a produzir esse tipo de trabalho. Simples, muito talentoso e bem descontraído, Lubambo enfatiza: “eu não trabalho pelo dinheiro, e sim porque gosto de fazer. Meus trabalhos não são caros, mas tem preço justo”. Além de expor no Ribeira Arte e Ofício, Lubambo também tem atelier em Aldeia e Boa Viagem.

Ainda ali, nesse mesmo espaço, esta a mostra o trabalho de Alberto Bello, 56 anos e trabalha com pintura humana figurativa e paisagens a trinta anos. Bello faz um trabalho de junção entre as cores espontâneas do impressionismo (impressão primeira) com o desenho marcado do expressionismo (óleo sobre tela). Uma fusão que o artista chama de “Nova Expressão”. Formado em arquitetura, também estudou no atelier de belas artes e fez curso no museu paulista Lasar Segall, e com orientação no México e Argentina. Bello contou que é um pintor que está sempre produzindo; “eu fiz uma pesquisa onde pintei a obra de Francisco Brennand, na qual durou seis meses e disso resultou numa exposição.

O Olinda Arte em toda Parte vai até o dia 09/12. Vale muito a pena conferir.
Mais informações acesse: http://www.olindaarteemtodaparte.com.br/