Michel Zaidan dissertou sobre a ‘judicialização da política’, e Délio Mendes defendeu uma reorganização da sociedade civil
Fotos e texto por Luiz Bernardo Barreto
Apoio técnico de Pedro Langsch
Apoio técnico de Pedro Langsch
No segundo dia do 1º Encontro de Ciências
Sociais da UFRPE 2007, terça-feira 07/11, se teve como pano de fundo nos debates, os “Desafios atuais para a construção da democracia”, palestrada pelo professor da UFPE, Michel Zaidan, e o prof. Délio Mendes, da UFRPE. O auditório do segundo andar do CEGOE estava cheio, e com certeza, o resultado foi bastante positivo no que diz respeito ao âmbito reflexivo que se criou no encontro.
Logo no começo do seu diálogo, Michel Zaidan fraseou: “Nós vivemos hoje uma época de desamor e ressentimento pela democracia”. Aquilo anunciava um discurso conciso e maduro. Com muita habilitação, o professor pregou que a democracia tornou-se objeto de desconsideração e desapreço, pois estava em processo de desilusão desde os anos 90 até os dias atuais. Foi justamente nessa época que houve a reforma do Estado, em que o sistema democrático ficou em segundo plano, em função do fundamentalismo fiscal, das políticas de oferta, do pós-fordismo, da inversão de prioridades dos governos, e, sobretudo, da mudança de atitude dos economistas em relação a política. “Fernando Henrique Cardoso se comportou como um verdadeiro representante comercial no Brasil e fora do País. O companheiro Lula também não ficou atrás nessa posição de presidencialismo de relações públicas”, comentou Zaidan, já adentrando no processo político atual.
A sua concepção se estruturava na idéia de que a política vai se tornando irrelevante,
principalmente nas tomadas de decisões cruciais que diz respeito à gestão macroeconômica do País. Disserta também que a inversão de paradigmas nos anos 90, contribuíram para deslegitimar o regime democrático, e retirar dele um pouco de sua aura e fascínio que exerceu nos anos 80. Segundo Zaidan, a política pode prometer acabar com as mazelas da sociedade, desde que não interfira na política econômica. “A política tem que ser isolada da economia”, diz o professor. Um outro fator interferente no andamento político, é a “judicialização da política” como um fenômeno mundial, sendo o princípio canônico da separação de poderes. Na visão de Zaidan, isso teria perdido o sentido a partir do momento em que a atividade judiciária muda de função, seguindo de uma mudança paradigmática do próprio Direito.
Em sua visão, o Poder Judiciário passou a ser mais chamado para ‘se dizer’ o que é a lei. “Quanto
mais aumenta a juridificação das relações sociais, mais o Judiciário é chamado à definir as leis”, registrou. Nesse entendimento, as decisões políticas do Judiciário vem usurpando muito o papel do Poder Legislativo, que, por sua vez, vem perdendo muito o seu terreno diante da judicialização da política. Em complemento ao seu raciocínio, indagou: O Poder Legislativo é esvaziado da sua competência constitucional de fazer leis. Que democracia é essa sem regime federativo, que está caindo aos pedaços? Que democracia é essa sem políticas regionais e sem descentralização tributária que fortalece os municípios? “Uma democracia de fachada e baixa identidade, pois é uma democracia que dá o voto para minorias governar o País! ”, respondeu a sua própria pergunta.
Sobre o PT, o professor afirma que a experiência política desse partido foi desastrosa no ponto de vista da renovação, porque ao invés de romper com o patrimonialismo e a captação de partidos e bancários do congresso nacional, e promover a reforma política tão esperada, o PT tirou proveito dessas mazelas históricas da política brasileira. Zaidan também chama atenção sobre a base eleitoral do Partido dos Trabalhadores, em que foi invertido do sul e sudeste, passando a ser do norte e nordeste. A explicação da ‘geografia eleitoral’, é que o PT sempre foi fortemente implantado nos grandes colégios eleitorais do Brasil, mas as regiões sul e sudeste foi captada pelo PSDB, PFL e PMDB, e o norte e nordeste ficaram com o PT, o PSB e outros partidos da base aliada do governo. “Essa mudança tem que ser bem estudada, para saber se ela significa um avanço ou um recuo”, disse o professor.
Finalizando seu diálogo, Michel Zaidan falou da conjuntura da economia com a política brasileira, e sobre a posição da imprensa sobre os assuntos políticos. “Agente não pode permitir que a nossa democracia seja uma democracia de mercado financeiro, que contemple interesses econômicos
através de outras vias de decisão, e que o Congresso Nacional seja um circo de horrores que a mídia todo dia realça”. O segundo conferencista, o também sociólogo e professor da UFRPE, Délio Mendes, palestrou com o coração aberto e o sentimento à flor da pele. Dentre os assuntos abordados por Délio, via-se uma ênfase em suas frases conselheiras e esclarecedoras, onde dissertava sobre a democracia de uma forma atenuante e acessível. “Nos estamos vivendo uma sociedade sem classe”, disse o professor, que acredita que a mesma é cada vez mais individual. Em sua concepção também se entende que a contradição é cada vez mais fundamental para reger a política.
Délio Mendes também chama atenção sobre os programas de bolsas de renda, que são benefícios
que substituíram os direitos. Aponta a política como elevação da sociedade para se construir a democracia, sendo esse um dos focos principais da sua palestra. “Os princípios que defendo é que não haja exploração do homem pelo homem”, registrou o professor, onde defendia ser necessário a reorganização da sociedade civil, para que hoje se lute com todas as forças por uma sociedade mais humana. Délio também lembrou que a nossa esquerda antecede a classe trabalhadora e é fora de lugar. “Nós estamos vivendo encruzilhados.., extremamente difícil”, acrescentou o professor.
Ao final de sua conferencia, Délio Mendes dialogou em forma de conselho e ensinamento: “É muito importante que nós não percamos o fio da história. Nós temos que estar organizados para transformar esse mundo em um lugar melhor, mais humano e mais capaz de fazer com que as pessoas se sintam pertencentes a esse grupo”.
Logo no começo do seu diálogo, Michel Zaidan fraseou: “Nós vivemos hoje uma época de desamor e ressentimento pela democracia”. Aquilo anunciava um discurso conciso e maduro. Com muita habilitação, o professor pregou que a democracia tornou-se objeto de desconsideração e desapreço, pois estava em processo de desilusão desde os anos 90 até os dias atuais. Foi justamente nessa época que houve a reforma do Estado, em que o sistema democrático ficou em segundo plano, em função do fundamentalismo fiscal, das políticas de oferta, do pós-fordismo, da inversão de prioridades dos governos, e, sobretudo, da mudança de atitude dos economistas em relação a política. “Fernando Henrique Cardoso se comportou como um verdadeiro representante comercial no Brasil e fora do País. O companheiro Lula também não ficou atrás nessa posição de presidencialismo de relações públicas”, comentou Zaidan, já adentrando no processo político atual.
A sua concepção se estruturava na idéia de que a política vai se tornando irrelevante,
Em sua visão, o Poder Judiciário passou a ser mais chamado para ‘se dizer’ o que é a lei. “Quanto
Sobre o PT, o professor afirma que a experiência política desse partido foi desastrosa no ponto de vista da renovação, porque ao invés de romper com o patrimonialismo e a captação de partidos e bancários do congresso nacional, e promover a reforma política tão esperada, o PT tirou proveito dessas mazelas históricas da política brasileira. Zaidan também chama atenção sobre a base eleitoral do Partido dos Trabalhadores, em que foi invertido do sul e sudeste, passando a ser do norte e nordeste. A explicação da ‘geografia eleitoral’, é que o PT sempre foi fortemente implantado nos grandes colégios eleitorais do Brasil, mas as regiões sul e sudeste foi captada pelo PSDB, PFL e PMDB, e o norte e nordeste ficaram com o PT, o PSB e outros partidos da base aliada do governo. “Essa mudança tem que ser bem estudada, para saber se ela significa um avanço ou um recuo”, disse o professor.
Finalizando seu diálogo, Michel Zaidan falou da conjuntura da economia com a política brasileira, e sobre a posição da imprensa sobre os assuntos políticos. “Agente não pode permitir que a nossa democracia seja uma democracia de mercado financeiro, que contemple interesses econômicos
Délio Mendes também chama atenção sobre os programas de bolsas de renda, que são benefícios
Ao final de sua conferencia, Délio Mendes dialogou em forma de conselho e ensinamento: “É muito importante que nós não percamos o fio da história. Nós temos que estar organizados para transformar esse mundo em um lugar melhor, mais humano e mais capaz de fazer com que as pessoas se sintam pertencentes a esse grupo”.