entrevista
fotos e texto por Luiz Bernardo Barreto - Jornalista
Mais uma vez o Ponto de Equilíbrio veio mostrar sua magia nos palcos pernambucanos
Banda carioca tocou seus clássicos e mostrou novo trabalho. O vocalista Hélio Bentes concedeu entrevista
Reggae de forma amadurecida, inteligente e muito bem elaborado. Assim podemos definir o Ponto de Equilíbrio, uma banda carioca de Vila Isabel que existe desde dezembro de 1999. Os elementos naturais da música reggae de raiz, são expressados em suas músicas de forma natural e envolvente, lhe prendendo não só as letras, mas também a sonoridade bem formulada e sempre congruente. Cheia de personalidade. Diversos ritmos do gênero negro compõem esse trabalho, feito com responsabilidade e dedicação.
O primeiro CD da banda foi uma demo gravada em 2000 e contou com cinco músicas: “Árvore do Reggae”, “Lágrimas de Jah”, “Rastafará”, “Odisséia na Balilônia” e uma versão própria de “Soul Rebel”, de Bob Marley. O segundo trabalho do Ponto, CD em vigência, “Reggae a vida com amor”, foi gravado em 2003, ganhando o disco de ouro por ser o CD de natureza independente mais vendido em 2004 (50 mil cópias).
Musicalmente falando, o Ponto de Equilíbrio é uma banda que sai do que hoje podemos chamar de “convencional” no reggae. A utilização de variados ritmos, juntamente com a experimentação que dá variadas formas aos mesmos, fazem com que suas influências ultrapassem o reggae como ritmo. O dub e o nyabinghi (sonoridades originalmente jamaicanas e africanas) são muito presentes em suas músicas, juntamente com o samba, completando assim suas principais influências rítmicas.
A música Rastafari, que para ser boa precisa ter junção entre boa letra (filosofia) e bom som (influências), é bem representada pela banda quando se encontram diferentes princípios musicais em um mesmo CD. As letras do Ponto chamam atenção a projeções sociais, como luta de classes, e linhas filosóficas e religiosas, como o rastafarianismo. A banda é formada por Helio Bentes (vocalista), Pedrada (baixo), Márcio Sampaio (guitarra base), Tiago Caetano (teclados), Rodrigo Fontenele (percussão), Marcelo Campos (percussão), Lucas Kastrup (bateria) e Ras André (guitarra solo).
Na sexta-feira, dia 10 de novembro, tive a oportunidade de conversar com o compositor e vocalista da banda antes deles fazerem um show, realizado no clube Português, Recife. Hélio Bentes falou como é o processo de elaboração das músicas do Ponto, como surgiu a banda, suas influências sonoras, como é o relacionamento com a mídia e mais.
Pouco antes do show, a banda teve a oportunidade de passar uma tarde de autógrafos na loja Urban Wave, no centro da cidade do Recife.
Como surgiu a idéia de formar o Ponto de Equilíbrio?
- A idéia de formar a banda existia antes mesmo de agente formar a banda. Havia uma procura forte de todos os integrantes da banda em encontrar músicos que fizessem uma música reggae com as mesmas características do reggae jamaicano e original. A música reggae não é só uma música que você vai cantar e as pessoas ouvir, é preciso você entender, e nós oito somos amantes desse ritmo, então, quando você é amante de um ritmo que as pessoas não conhecem muito bem e nem é muito fácil de você chegar a ele, claro que você vai se tornar muito mais fiel.
Então como éramos fãs fiéis do reggae de Bob Marley, Peter Tosh e outros nomes, queríamos fazer do nosso, com a língua brasileira, um reggae que vinhesse com as características reais do reggae, como uma música de louvor, protesto e amor. Não este amor sentimentalista visto em novelas, mas sim verdadeiro, que surge dentro de todos nós, bastando-o encontrá-lo.
Por quê o nome Ponto de Equilíbrio e qual a relação da religiosidade com a música da banda?
- O nome da banda vem de um princípio. O ponto de equilíbrio é um ponto em comum, é um nada ou pode ser o tudo. “Uma árvore sem raiz não fica de pé”, isso significa um ponto de equilíbrio. Já o lado religioso é uma coisa que agente vai buscando junto com a música. Ao mesmo tempo que agente vai evoluindo com a música, evoluímos religiosamente, porque a música reggae tem a ver com a religiosidade, principalmente com a filosofia Rastafari.
Religião, no meu modo de ver, não é como chegar numa Igreja, ficar ajoelhado rezando em um Domingo, e sim uma maneira de se religar com Deus, e nosso modo de religião é a música rastafari.
Qual são as influências nacionais e internacionais e o que a banda escuta entre bandas nacionais e internacionais?
- As influencias nacionais não vem do reggae e sim do samba. Quando agente começou queríamos fazer um reggae bem raiz, do jeito que os jamaicanos faziam nos anos 70. Era um reggae que não se fazia na época aqui no Brasil. Agente não foi muito influenciado por bandas de reggae brasileiras, e sim por bandas jamaicanas como Bob Marley, Burning Spear, Gladiators, Peter Tosh. Hoje em dia agente escuta todo tipo de música, como nós sempre ouvimos, e outras músicas também influenciam nas nossas músicas.
As letras das músicas do Ponto tem um certo cunho de profecia. Isso é um papel do reggae como ferramenta de ascensão filosófica e social?
- É exatamente isso que você falou! Nós somos ferramentas, você tá sendo uma ferramenta. Não é só social, mas como também interior, espiritual.
Como é o processo de elaboração das músicas, o ritmo é sobreposto as letras ou vice-versa...
- He brother, aí que acontece. É vice-versa. As vezes alguém vem com uma linha de vocal e o pessoal coloca uma música por cima. As vezes se chega com uma simples idéia e se transforma numa música. É inspiração. Todos compartilham desse processo, qualquer um pode chegar e colocar uma idéia. Não existe líder na nossa banda. Depende do que vai acontecer a letra ou a música se sobrepõe uma a outra.
Na tua opinião, como está o cenário da música Reggae brasileira hoje?
- Pode parecer que está crescendo, que isso é uma esperança que agente tem que guardar dento da gente. Mas ao mesmo tempo não encontramos apoiadores com mais porte de capacidade, para poder expandir a música reggae para os povos aqui no Brasil, pois se está precisando. As vezes o reggae não chega onde tem que chegar e de uma forma que tem que chegar. Chegou a mim, mas não chegou a muitos outros que poderiam fazer uma música reggae boa, que poderiam levá-la para dentro da sua vida como uma coisa que vai mostrar o caminho certo.
Esse é o papel do Ponto, fazer essa música chegar para outras pessoas?
- Mas é claro, sempre foi e sempre será se Deus quiser.
A banda já tocou aqui antes. Como o público nordestino reagi ao som de vocês.
- O público nordestino é um público quente. O público que é feito para o reggae. Eu fico amarradão de estar aqui no nordeste. Se eu pudesse moraria aqui um tempo.
Como é a relação da banda com as rádio e os veículos de mídia?
- É simples. O movimento alternativo ajuda muito agente. Eu queria até parabenizar e agradecer esse pessoal. As rádio FM e AM já é um esquema um pouco diferente. Jornais até que acontecem pelo fato de termos uma boa produção, mesmo independente, onde há pessoas com força de vontade. Isso faz o nosso trabalho de independente virar um “independente seguro”.
Agente tem um vídeo-clip, que é da música “Aonde vai chegar” que é divulgado em alguns sites de reggae.
Em abril de 2004 a banda conseguiu o CD de ouro com este segundo álbum (reggae a vida com amor), um dos discos independentes mais vendidos no Brasil (50 mil cópias). Qual o conselho que tu deixa para essas bandas alternativas de reggae que tem pouco espaço, e luta de forma também independente por um lugar melhor?
- A primeira coisa é ter força de vontade! Acreditar no seu trabalho e que tudo vai dar certo, e não ter pressa de ir logo para uma gravadora, pois isso pode acabar com o trabalho. A mensagem que eu passo é força de vontade, é a primeira palavra. Aqui, essa terra, é comandada pelos homens e agente faz uma música que precisa se sustentar. Precisa de estar em cima de um palco, precisa de “instrumentos”, de pessoas.
No final do show, George, vocalista da banda Pernambuca de reggae N’Zambi, entregou a Hélio Bentes, em ato simbólico, o disco de ouro conquistado pela banda. O ponto de Equilíbrio aproveitou a oportunidade do evento para tocar algumas músicas novas do próximo CD, que, provavelmente, sairá no começo de 2007. Teve quem achou que a banda poderia tocar mais e a percussão estava um pouco baixa. Mas de um modo geral, foi um show cheio de magia e com muita música boa. O pernambucano sempre quer mais reggae.
Mais contatos sobre a banda acesse: www.bandapontodeequilibrio.com.br . Em breve mais fotos da banda no site: www.flickr.com/photos/luizoolinda