21/06/2010

A Concepção de Denys Cuche na diferenciação teórica entre Cultura e Identidade Cultural

Texto por Luiz Bernardo Barreto


Em sua reflexão, Denys Cuche tenta destrinchar o significado do que seria a chamada "moda" das identidades. Para o autor, as crises culturais são sinônimos de crise de identidade, que resultam, por exemplo, no enfraquecimento do modelo de Estado-Nação, da integração de cunho político e da globalização da prática econômica.

A sociedade multicultural nasce numa concepção de diferença ideológica, somente concebida a partir dos anos setenta, que faz nascer a individualização e a diversidade no ideário cultural do indivíduo, ou da sociedade. A noção de cultura é diferenciada da noção de identidade cultural. A cultura pode existir sem uma estrutura de identidade. Ou seja, ela depende, em maior parte, de um processo inconsciente. Já nascemos em determinada cultura. Nos é imposta por via natural. Já a identidade cultural nos vincula aos nossos anseios existenciais, onde a prática do conhecimento e da vida determina nossa estrutura identitária. A identidade cultural é um componente da identidade social, que se articula com a classe sexual do individuo, sua classe de idade, sua classe social. Enfim, seu sistema social.

Dessa forma então, segundo Cuche, entendemos que a identidade, antes de qualquer coisa, serve para que nos localizemos como individuo, e localizemos pessoas ou grupos simbólicos ao nosso padrão. Mas devemos apontar a afirmativa do autor, onde diz que a identidade social é inclusão e exclusão. Da mesma forma que ela atrai, ela segrega. Nessa concepção, a perspectiva que se tem, é que a identidade cultural se apresenta como uma modalidade categórica da distinção entre as práticas culturais, que se baseia, nada mais, que nas diferenças culturais.

"Em uma abordagem culturalista (...) o individuo é levado a interiorizar os modelos culturais que lhe são impostos, até o ponto de se identificar com seu grupo de origem". Na teoria primordialista, defende-se que a identidade etno-cultural é primordial porque a vinculação ao grupo é a primeira e a mais fundamental de todas as ligações da sociedade. O autor cita que para os objetivistas, determinado grupo só pode reivindicar sua autenticidade na construção de sua identidade cultural, se esse for dotado de língua e cultura própria, e fenótipo próprio. Porém, ele também cita a posição dos mais subjetivistas, que afirmam que encarar o fenômeno dessa forma, é como se parasse no tempo, sendo esse fenômeno algo estático, sem dinamismo, sempre central e, por imposição, global. Seria uma coletividade invariável e, por vezes, imutável.

Denys Cuche assegura que o mais viável é fazer uma abstração relacional do significado e conceito de cultura, uma vez que tomando partida do objetivismo, ou, por contrário, o subjetivismo cultural, cairíamos no impasse. O contexto da relação entre as teorias nos daria uma explicação sobre a afirmação ou não da identidade. "A construção da identidade se faz no interior de contextos sociais que determinam a posição dos agentes, e por isso mesmo orientam suas representações e suas escolhas". O autor vem por dizer que a identidade se constrói e se reconstrói de forma constante no interior de trocas sociais.

Dependendo da situação de relação, a auto-identidade pode ter maior ou menor legitimação diante da hetero-identidade. Como nem todos os grupos têm o poder de identificação, a identidade é o que está no cerne das batalhas sociais. Porém, o cientista deve explicar os processos de identificação sem julgá-los. Cabe dizer que o autor enaltece que a ideologia nacionalista é uma forma de exclusão das diferenças culturais, pois sua lógica se mostra radical e de purificação étnica.

Há uma flexibilidade na concepção de identidade em Estado-Nação mais novos, de forma que deixam espaço para a novidade e inovação social. Em tais casos, a fusão e cisão étnica comportam-se de uma forma a não fazer agir conflitos mais extremos. A maior identificação com a coletividade, vai nascer da necessidade de solidariedade, que virá em busca do reconhecimento social. O indivíduo que faz parte de mais de uma cultura, constrói sua própria identidade fabricando uma síntese inédita a partir desse novo olhar. Isso resulta num sincretismo cultural, não numa duplicidade, já que se adiciona mais uma concepção de determinada identidade, e não a substitui.

Quando a identidade se encaixa no padrão das lutas sociais de classificação perante determinado grupo de indivíduos, buscando a auto-afirmação, entra em voga o conceito de "estratégia de identidade", sendo esta vista como um meio para garantir e atingir um objetivo. Dessa forma, o conceito de identidade passa do absolutismo para o relativismo, ou seja, ela se comporta de acordo com a demanda de seu objetivo. Isso porque ela busca a reprodução ou reviravolta das relações de dominação que a circunda. Os atores sociais que dão a direção de sua própria imagem identitária, com o objetivo de usá-la de tal forma para atingir seu objetivo. Mas essa estratégia não é sinônima de liberdade total na escolha do seu padrão identitário, pois tais estratégias "levam em conta a situação social, a relação de força entre os grupos, as manobras dos outros etc".

De forma emblemática ou estigmatizada, a identidade pode servir de instrumento nas relações entre os grupos sociais. É a vontade, simples sentimento humano, que é determinante na separação, na "fronteira", de se diferenciar e de se fazer uso de traços culturais, como apontadores em uma identidade específica. Denys Cuche foi feliz em seus argumentos quando citou a análise de Barth, onde explicita que "a identidade etno-cultural usa a cultura, mas raramente toda a cultura". Isso nos faz pensar que, podemos sim nos introduzir em culturas diferentes e estranhas à nossa, porém nunca deixaremos nossa cultura, aquela arraigada de nossos costumes e crenças, ser atropelada por uma cultura vivenciada em instantes.

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