11/03/2008

A arqueologia e a cultura rupestre do agreste pernambucano (2º reportagem)

Fotos e texto por Luiz Bernardo Barreto


Demorou... mas conseguir fazer. Depois de muito tempo de pesquisa, estudos e muita ralação, o geógrafo André Luiz Proença concluiu seu Mestrado em arqueologia pela UFPE, e eu, enfim, terminei a primeira parte desse trabalho, já que a segunda é a montagem do vídeo. Entre os dias 15 e 18 de setembro(ver primeira reportagem mais abaixo) e 16 e 18 de dezembro pesquisamos 19 sítios arqueológicos na área dos municípios de Alagoinha e Venturosa, fotografando, catalogando e filmando os mesmos.


Nessa segunda viagem pesquisamos os sítios Pedra da Caveira, Jardim III, Pedra da Velha Chiquinha, Mão de Sangue, Uricaca, Peri-Peri I e II, Pedra Fish(conhecida cientificamente como fixa) e Cemitério do Caboclo. Desses sítios estudados, os que foram recentemente reconhecidos através do “Projeto de Educação Patrimonial em Alagoinha”-melhoria na qualidade de vida da população, registrados junto ao IPHAN, e pesquisados nos trabalhos são: Pedra do Sítio do Donato, Pedra do Pote, Pedra da Caveira, Jardim III, Pedra da Velha Chiquinha, Uricaca e Mão de Sangue.

A perspectiva de se trabalhar com os sítios arqueológicos como patrimônio cultural, permite as discussões em diversos setores da população, fazendo com que ela valorize e conserve essas áreas históricas. O entorno próximo aos sítios também tem importância para autenticidade do patrimônio e contextualização da paisagem. Os estudos sobre as paisagens arqueológicas buscam interpretar como os grupos do passado reagiram à heterogeneidade da distribuição espacial dos recursos eventualmente disponíveis.


A escolha pelos locais de ocupação acontece pela seleção dos blocos rochosos que se destacam na paisagem. A partir de muitos sítios se obtêm um amplo campo de visão, que pode se relacionar às estratégias de observação da paisagem, e daqueles recursos que teriam importância sócio-cultural. Mas para entender melhor o contexto de cada sítio, a palavra é do arqueólogo André Proença:

1. A gente percebe que tem vários estilos e várias cores de tintas distintas em diferentes desenhos, e diferentes sítios arqueológicos. O que se dá as diferentes formas e diferentes tintas? Como elas são feitas e usadas?

- Os sítios que já haviam sido cadastrados e estudados na área de estudo foram
incluídos na tradição Agreste. A definição de uma tradição arqueológica, quando baseada nos grafismos rupestres é orientada pela identificação da apresentação dos grafismos. As categorias que se estabelecem a partir desta definição são muito amplas, tanto no aspecto geográfico, como no aspecto temporal.
Na tradição Agreste, os grafismos aparecem isolados, ou em painéis compostos e muito elaborados. As pinturas observadas em painéis compostos por vários grafismos possuem pouca representação de indivíduos ou animais, predominando os grafismos puros, os quais possibilitam várias interpretações de seus significados, e têm em alguns dos sítios estudados uma apresentação bastante elaborada.
Entre os grafismos observa-se a grande predominância pela utilização do vermelho em diferentes tonalidades, embora aparece também a escolha pelo branco, amarelo e em menor ocorrência o preto. O pigmento vermelho é extraído através de um mineral conhecido como hematita, ou ainda óxido de ferro, que é processado com aglutinantes, para ter a plasticidade desejada nas pinturas. Já os outros pigmentos podem ser extraídos de outros minerais, ou ainda argilas encontradas na região.

2. Quais foram as hipóteses abordadas no seu estudo?

- Iniciou-se a pesquisa pressupondo-se que havia relações entre a distribuição dos
sítios arqueológicos com a configuração da paisagem. Nesta porção do Agreste pernambucano há áreas de planaltos, depressão e vales onde as características dos sítios arqueológicos também apresentam algumas variações.

3. E as conclusões do seu trabalho

- Foi observado nas áreas de depressão e vale, três concentrações de sítios arqueológicos, com um sítio cemitério em cada uma delas. Duas áreas de concentrações, a observada no vale do Ipanema, e entorno da Pedra Furada, possuem fontes de água permanente, mesmo durante os períodos de estiagens.
Já para a área de planalto, verifica-se a dispersão entre os sítios arqueológicos, sendo apenas três que são conhecidos: Pedra Pintada, Mão de Sangue e Uricaca.
Acredita-se que estes grupos tinham grande mobilidade pelas diferentes paisagens. As escolhas para a ocupação estão orientadas pelo aspecto estratégico durante os deslocamentos pela região e pelos recursos disponíveis no entorno de cada sítio.?

É provável que os grupos pré-coloniais tinham, em cada bloco destacado na paisagem, uma posição estratégica na busca pelos recursos necessários à manutenção sócio-cultural. A disponibilidade destes recursos em amplos territórios faz do local do sítio o centro social de convergência e encontro.

para ver mais imagens da pesquisa, acesse:

http://www.flickr.com/photos/luizoolinda/